segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Manifesto solitário pró-abolicionismo do regime semi-escravocata clássico-contemporâneo



Não sei se foi tu,
Ó, meu caro Raul,
Ou se foi o teu eu-lírico,
Sob o efeito do etílico,
Que questionou as leis,
Fez da loucura um banquete
De causas inadiáveis,
Anunciou os trens e as naves
Pois ser normal é o cacete!
Quem fala, a mim, não compete,
Desde que não seja marionete.
Repudio de vez em manchete
A roupagem que me veste.
Poder ser um cowboy do oeste
Até um “cabra da peste”,
Na quentura do nordeste,
Quiçá no frio do Evereste
O fato é este...
Pior que não calçar 36
É ter que usar 36-37.


sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Testemunho de um surfista após uma experiência de quase morte



Não é todo dia
Que se vive uma aventura.
A pressão parecia subir,
Podia sentir na boca o gosto de sal.
Olhos vidrados que pareciam temer
O que estava prestes a se consumar.
Caldo, desmaio.
Os cabelos ainda molhados
Eram sacudidos pelo vento.
Mas não era a brisa do mar,
Nem sequer estava na praia.
Acordei na cama de um hospital.
Desligaram o ventilador.
E desde essa data
Nunca mais tomei sopa quente
Minutos antes do banho.

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Nada é tão perfeito quanto o dom da tua imperfeição



Olhos que enchem d’água
Ao ler os versos de um poema.
Olhos, fechados,
Logo que vem a aurora,
Preenchidos pela remela
Que habita suas margens.

Orelhas que se acalmam
Ao som do canto de um passáro
São as mesmas orelhas
Que encharcam os cotonentes.
Quando retirada toda a cera,
Faz-se livre a “borboleta”.

E essas narinas abertas,
Receptivas ao cheiro de alecrim,
Também expurgam as impurezas
No espirro ou no catarro,
Que aos poucos escorre pelo rosto
Tendo a boca como destino.

A propósito,
Mas que boca!
Suave e sincera no tocar dos lábios,
Contrasta com o peso
Das palavras duras que profere
Em tom de descaso.

Por fim vêm as mãos.
Elas afagam, tranquilizam,
Mas quando enfurecidas
Marcam-me a face.
Disponham do outro lado
Na hora que quiser.


Pois, enfim, o menino sentido
Encontrou um sentido,
Em viver sentindo...
Em usar os sentidos.