Último
ano de ensino médio é sempre angustiante. Já não bastasse o fato de encarar o
fim de uma etapa importante na vida e a eventual “separação” ou, no mínimo,
distanciamento dos amigos construídos ao longo dos anos, há ainda a fatídica
aproximação da universidade e consequentemente a escolha da profissão que se
irá seguir a partir de então.
Era
justamente essa a questão que impregnava a mente de Luís. Aos poucos o ano
letivo ia chegando ao fim e com ele a proximidade das provas e/ou exames, cuja
aprovação poderia lhe assegurar uma vaga no meio acadêmico, também se tornavam
iminentes. Mas até aquele momento o jovem ainda não havia decidido em qual área
desejaria atuar.
Em
uma segunda-feira de céu nublado, Luís tomara um ônibus para ir até a escola,
como costumava fazer rotineiramente, mas mal sabia ele que algo inusitado
marcaria aquela ocasião. Sentado à janela do coletivo, o garoto recordou dos
livros de Direito que pegara emprestado com um primo advogado, lembrou também
que estes estavam na sua mochila e, logo em seguida, começou a folheá-los. Se
aquela não era, de fato, a profissão que desejava, ao menos mostrava-se a opção
mais viável naquele momento.
Mais
a frente o ônibus foi obrigado a parar o seu percurso, por conta de um breve
congestionamento. Diante do barulho das buzinas de carros e motos que ali
ficaram impedidos de trafegar, Luís tirou, por um instante, a vista dos livros
e lançou-a pela janela que estava a sua esquerda. A cena com a qual se deparou
era, no mínimo, intrigante: um bar com cerca de oito homens em seu interior,
todos sem camisa e fazendo muito barulho; Luís olhou as horas e ficou surpreso
ao perceber que eram apenas 07:15 da manhã de uma segunda-feira, horário bem
cedo na opinião dele, mas não o suficiente para impedir que todas aquelas
criaturas já estivessem bêbadas e alheios ao mundo que os rodeava.
Alguns
homens tentavam ficar de pé e seguir algum rumo, provavelmente indefinido, porém
o máximo que conseguiam eram poucas cambaleadas, enquanto outros permaneciam
sentados e se queimavam com as chamas dos próprios cigarros que teimavam em
cair das bocas aromatizadas pela cachaça num retrato fiel da zoomorfização
humana. Luís, com um pequeno sorriso estampado no rosto, voltara-se novamente
para os livros, olhou-os atento e balançou a cabeça em um sinal de negação,
guardando-os na sequência. Naquele momento, o garoto, finalmente, descobrira
qual carreira iria seguir. Seria microempresário, em outras palavras: dono de
bar!
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