segunda-feira, 11 de junho de 2012

Retificando Verdades Absolutas: todos são "culpados" até que se prove o contrário

Um tribunal é o cenário do fato que vos conto. No banco dos réus, tenso e apreensivo, estava João Batista, vulgo “João de Deus”, homem honesto, trabalhador, casado e pai de duas crianças. De origem humilde E honrada, João de Deus sempre foi um exemplo de cidadão, mesmo em meio à criminalidade do bairro onde vivia com a família nunca desrespeitou as leis, exceto em um ponto, justamente aquele que o levara até a prisão.
Eram tempos difíceis, em que João de Deus precisava desempenhar seu ofício de pedreiro desde as primeiras horas do dia, com o sol ainda por nascer, até às nove horas da noite. Tudo para garantir o alimento da esposa e dos filhos, que muitas vezes já estavam dormindo e nem o viam chegar em casa. A rotina era exaustiva e o homem precisava de um subterfúgio, o qual sabia muito bem onde e como encontrar.
Em uma sexta-feira após o término do expediente, João de Deus nem sequer conversou por alguns minutos com os colegas, como era de costume. Simplesmente pegou sua bicicleta e saiu às pressas sem dizer a ninguém que rumo tomaria. Horas depois os companheiros do rapaz descobriram, pela movimentação que havia em sua casa, que ele acabara de ser preso em uma ação da polícia militar para apreensão de drogas em uma boca de fumo próxima. João, que lá tinha ido em busca da “erva proibida”, comprava a droga justo no momento em que os policiais tomaram a boca e deram voz de prisão à todos os presentes, sob acusação de tráfico.
Ainda no tribunal, estava também Roberto Goulart, o advogado que a defensoria pública indicara para assumir a defesa de João. Roberto era, em um passado não muito distante, um garoto de futuro promissor na carreira de advocacia, oriundo de uma família nobre e influente. No entanto, a pressão sofrida pelos pais e parentes visando seu crescimento profissional foi demais para o rapaz, que assim como João, também buscara nas drogas (nesse caso, em pó) uma saída para seus problemas. O que a princípio era mera fuga da realidade acabou por se tornar uma dependência, e após duas internações, Roberto tentava se reestabelecer tanto no âmbito psicológico como profissionalmente e uma vitória nessa causa seria uma espécie de alavanca para o sucesso novamente.
Do “outro lado da moeda” estava Jairo Sampaio, promotor conceituado e famoso por colocar os bandidos, segundo ele, “no lugar onde se deve”. Com a popularidade em alta, pensava em se candidatar a algum cargo público em breve e já começava a fazer sua política de governo. Estava decidido a incriminar João de qualquer forma e somar mais um “marginal” preso à sua lista. João, usuário de entorpecente desde a adolescência, não conseguia mais se satisfazer com uma quantidade pequena de droga e por isso comprara-a em uma grande escala. Mal sabia ele que aquela erva adquirida com o simples propósito de aliviar a tensão, seria agora o motivo da sua desgraça, já que Jairo conseguiu convencer o juiz de que a quantidade de maconha portada pelo pedreiro era superior ao tolerável para consumo.
Ao fim do julgamento, João de Deus, tomado pelas lágrimas, teve direito apenas de se despedir brevemente da esposa e filhos para em seguida voltar ao presídio, sua casa pelos próximos cinco anos, onde pagaria caro por um crime do qual não era inocente, mas também não tão culpado. Roberto, por sua vez, amargurava mais uma derrota na vida e o medo das consequências que isso podia acarretar com a iminente volta da sua dependência química.
Quanto a Jairo Sampaio, sorridente e provando da sensação do dever cumprido, só lhe restava comemorar o sucesso profissional e a ascensão popular que em pouco tempo lhe garantiria um cargo político. Avisou a esposa que chegaria tarde em casa por conta de uma reunião que teria com membros do partido, em seguida ligou para Camila, sua amante há 2 anos. Os dois comeram, beberam, riram, até que encerraram a comemoração por mais uma vitória do bem-sucedido promotor, com uma bela noite de amor.  

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